Animal tem alto valor na culinária asiática, o que aumenta o interesse e o tráfico da espécie. Animal tem função importante para a preservação dos oceanos. Holothuroidea Holothuria é uma das espécies de pepinos-do-mar que ocorre no Brasil
Luciana Martins
Estima-se que mais de 10 toneladas de pepinos-do-mar são extraídas ilegalmente da costa brasileira para envio à Ásia todos os anos.
O dado foi apurado por pesquisadores brasileiros que publicaram um artigo em 2019 sobre a extração da espécie Holothuria grisea, no Ceará, que teria como destino a China. A espécie é uma das 50 que ocorrem no Brasil.
De acordo com a bióloga e pós-doutoranda do Instituto Oceanográfico da USP Luciana Martins, esse dado pode ser ainda maior. Ela conta que, nos últimos meses, foram aprendidos coletores ilegais de pepinos-do-mar nas cidades de Paraty (RJ), Ubatuba (SP) e no estado de Santa Catarina.
Pepino-do-mar fotografado no México.
Ismael Orozco Salinas/iNaturalist
“Eu também recebi do Ibama, a partir de apreensões realizadas em nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos, cerca de 10 mil indivíduos das espécies Holothuria grisea e Isostichopus badionotus, por isso acho que é possível o total passar das 10 toneladas atualmente, apesar de não termos dados concretos”, conta a bióloga, que desenvolve uma pesquisa com os animais financiada pela Fapesp.
Mesmo não sendo consumido no Brasil, o pepino-do-mar é considerado uma iguaria culinária na Ásia e também é usado na medicina tradicional chinesa, possuindo um alto valor comercial no continente. Por conta disso, são alvos do tráfico ilegal.
“Estas espécies não constam na lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e nem na lista das espécies brasileiras ameaçadas. No entanto, os critérios utilizados na análise de risco são baseados em informações básicas sobre estas espécies, que são praticamente ausentes”, esclarece a especialista.
Cerca de 300 kg de pepinos-do-mar contrabandeados são apreendidos em ônibus em Angra dos Reis
Dependendo da espécie, o pepino-do-mar também pode ser colorido.
Andrea Ruggeri/iNaturalist
A retirada deles da natureza desequilibra a saúde dos oceanos, à medida que os pepinos-do-mar são organismos fundamentais para os ecossistemas marinhos, especialmente nos recifes de corais, onde são muito abundantes.
Nos recifes, eles se alimentam de areia e dos nutrientes presentes. “Um grupo de pesquisadores na Austrália descobriu que após o processo de digestão, as fezes dos pepinos do mar liberam substâncias na água que tem a capacidade de elevar o ph local, diminuindo os efeitos da acidificação e ajudando a preservar os recifes de corais e toda fauna associada ao ecossistema”, finaliza.
Pepinos-do-mar
Existem cerca de 1,7 mil espécies de pepinos-do-mar em todo mundo. São animais invertebrados do filo Echinodermata, parentes das estrelas-do-mar, dos ouriços-do-mar e das serpentes do mar.
Com o corpo mole, cilíndrico e alongado, os pepinos-do-mar podem medir poucos milímetros até cerca de 30 centímetros.
"As únicas estruturas rígidas são ossículos microscópicos embebidos na sua pele que possuem as mais diferentes formas e, por isso, são importantes na identificação das espécies e o anel calcário, uma estrutura interna formada por placas, que tem função estrutural e é um importante caráter taxonômico”, explica Luciana.
Os pepinos podem ser encontrados em todos os oceanos, geralmente, abaixo e sobre as rochas, entre algas e em recifes de coral.
Ossículos microscópicos de diferentes formatos dos pepinos-do-mar
Luciana Martins
“Uma estrutura exclusiva dos pepinos-do-mar são os tentáculos orais (pés ambulacrais modificados), que se localizam na região anterior do corpo e são utilizados para alimentação. Durante o processo, os tentáculos coletam partículas em suspensão (suspensívoros) na coluna d’água ou material depositado no fundo e as conduzem, de forma coordenada, até a boca”, afirma a pesquisadora.
Ela explica ainda que, em situações de estresse, os pepinos-do-mar expelem os órgãos como tentáculos e anel calcário, que irão se regenerar posteriormente. Além disso, quando são atacados por peixes, os pepinos-do-mar liberam uma estrutura de aspecto tubular que contém toxinas.
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Publicada por: RBSYS