Segundo a polícia, uma das vítimas delas chegou a ficar internada na UTI. Áudios registram até frustração de suspeitos por não terem participado de agressões. Falsos torcedores de futebol espalham violência em Goiás
Áudios mostram conversas entre falsos torcedores que são suspeitos de se reunirem para espancar pessoas que estão ‘na hora e no lugar errado’, em Goiânia. Segundo a polícia, uma das vítimas delas chegou a ficar internada na UTI. Áudios registram até frustração de suspeitos por não terem participado de agressões.
"Hoje eu não dou conta de brigar, não. Mas amanhã...É o trem-bala, doido!", diz um deles em áudio.
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Os nomes dos suspeitos não foram divulgados, por isso, o g1 não conseguiu contato com a defesa deles até a última atualização desta reportagem.
Na última quinta-feira (25), alguns dos presos foram denunciados pelo Ministério Público por crimes como roubo, lesão corporal e associação criminosa.
Segundo a Polícia Civil, no dia 17 de dezembro do ano passado, em Goiânia, o jovem Sandro Carvalho denunciou que foi vítima do grupo. Os agressores chegaram de carro e perguntaram para que time ele torce e ele respondeu que é o Vila Nova. Após a situação, ele foi agredido.
De acordo com as investigações, o grupo é definido como gangues que atuam se apropriando indevidamente do patrimônio cultural que é o futebol, ou seja usam como pretexto para agredir pessoas. Conforme a polícia, eles podem usar até camisas de torcidas organizadas, mas, segundo os investigadores, não são filiados a nenhuma.
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Vítimas de agressões
A Polícia Civil disse que a maioria deles não frequenta estádios. O grupo não sabe, por exemplo, sobre escalação, técnico e pontuação do time que se apresentam como torcedores.
A investigação descobriu ainda que eles disputam campeonatos na internet que simulam brigas de torcida. As estratégias que eles utilizam nos jogos online são aplicadas no mundo real.
No dia 31 de outubro do ano passado, também em Goiânia, o jovem Gabriel de Souza tentou fugir de uma agressão e foi perseguido. Os membros da gangue o agrediram até ele desmaiar. O celular dele e os cartões de banco foram roubados. Gabriel sofreu ferimentos graves e precisou passar por cirurgias.
Em um áudio, o motorista de uma das gangues chega a reclamar por não participar de uma agressão.
"Não dá para bater em quase ninguém. Toda vez que eu vou, quando eu mal trisco no cara, tem que voltar para dentro do carro, porque todo mundo sai correndo: 'Bora, bora!'. Motorista fica só no volante", conta um deles.
Segundo as investigações em um dos casos, a gangue combinou de agredir três pessoas que estavam em uma praça.
"Os meninos falaram que tinham três [pessoas] na praça, moscando, um de boné...Aí, mano, queremos agilizar. O menino viu eles era oito horas e já são 8h43. Devem tá lá ainda moscando, entendeu? Nós tinha que descer pra lá", diz um deles.
As investigações mostram quem eles foram até a praça, mas como não havia ninguém, eles continuaram andando por um bairro da capital para procurar outras pessoas. O objetivo era agredí-las.
"Tem como ir nem no porta-mala desse carro aí, não? Cê tá doido, tô doidinho pra bater em alguém", diz eles em um áudio.
Um vídeo divulgado pela Polícia Civil em julho de 2023 mostra membros perseguindo uma ambulância que resgatou uma pessoa baleada do time rival, em Goiânia. Nas imagens (veja abaixo) é possível ver a perseguição e quando um dos membros grita:
"Panetone tá enterrado, hein? Esse daí tá em coma, vai ficar em coma". Eles se referem ao rival que foi resgatado e estava sendo transportado na ambulância.
Vídeo mostra membros de torcida organizada perseguindo ambulância que resgatou rival
Mais casos de violência
A Polícia Civil divulgou que a violência dos falsos torcedores acontece há 1 ano e passou a atingir qualquer um que estivesse "na hora errada e no lugar errado". Ainda no ano passado, no dia 30 de abril, o motorista de um ônibus foi apedrejado pelos criminosos e ficou bastante ferido.
Já em 20 de março, em um posto de combustíveis o frentista Luiz Gustavo Da Silva, que não tinha relação com futebol, também foi espancado pela gangue ao tentar separar uma briga.
"Eu não me lembro, mas pelo relato das pessoas eu fui pedir para eles seguirem a vida e eles vieram para cima. Eu fui agredido sem um motivo real, não estava ali querendo briga. Eu estava ali trabalhando", contou Luiz.
Segundo a polícia, três motos chegaram pra abastecer e a gangue viu um torcedor adversário. Um dos agressores o provocou e o agridiu. A vítima reagiu e o frentista tentou separar a briga. Ele levou sete pancadas na cabeça com um capacete e foi agredido até quando já estava no chão.
Ele ficou 10 dias internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), faz acompanhamento com psicologo e psiquiatra e mesmo após 10 meses da agressão, ele faz faz reabilitação para tentar voltar a trabalhar.
A Polícia Civil criou um Grupo Especial De Proteção Ao Torcedor. No primeiro ano, em parceria com o Batalhão Especializado De Policiamento De Eventos e com o Ministério Público, o grupo já prendeu 62 suspeitos. Dez deles seguem presos e os demais estão com medidas restritivas, como o uso de tornozeleira e a proibição de sair de casa à noite.
Falsos torcedores marcam encontros para espancar pessoas com desculpa de ser por rivalidade no futebol, em Goiânia
Reprodução/TV Globo
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Publicada por: RBSYS